Pro Paz Mulher reforça atendimento a vítimas de violência em Belém
Fotos: Carlos Sodré/ Ag. Pará
(Agência Pará de Notícias)
Desde primeiro de julho deste ano, qualquer mulher com mais de 18 anos e vítima de violência doméstica, familiar ou sexual pode contar com um núcleo específico de atendimento, o Pro Paz Mulher. A nova estrutura é pioneira no país e garante o atendimento interdisciplinar e qualificado. A ideia é de encorajar as mulheres a buscarem apoio especializado. Em apenas dois meses de funcionamento, o espaço já recebeu 704 vítimas que passaram por acompanhamento de assistentes sociais, psicólogos, médicos, enfermeiros e até pedagogos, que fazem o acompanhamento dos filhos de mulheres agredidas.
Na nova infraestrutura, a mulher entra em contato com três núcleos de atendimento: o Biopsicossocial, o de Responsabilização do agressor e finalmente o Jurídico (onde atuam o Ministério Público, a Defensoria e o Tribunal de Justiça). Após passar pela triagem, a vítima é encaminhada ao serviço de acolhimento, onde é acompanhada de perto por uma assistente social e uma psicóloga. Somente depois de todo o amparo psicológico, a mulher é encaminhada aos trâmites jurídicos e possíveis boletins de ocorrência.
“Aqui o foco não é apenas a violência física, mas outros tipos também. Neste espaço, a mulher é acolhida. Evitamos que aconteça a vitimização da mulher que, em outras situações vai a diferentes lugares e acaba por ficar constrangida, envergonhada, tendo que expor sua história em cada um deles. Por isso, evitamos a peregrinação em diversas instituições de uma mulher que está fragilizada. Aqui, ela encontra todo o apoio multidisciplinar de profissionais capacitados para falar diretamente com ela”, garante a coordenadora do Pro Paz Integrado, Eugênia Fonseca.
Ainda de acordo com Eugênia, nestes dois meses de atendimento não é possível traçar um perfil social, econômico ou psicológico de vítimas que procuram o local. “A violência é multifacetada. Não existe um tipo ou comportamento específico dessas mulheres. Não há um padrão. O que sabemos é que a grande maioria é agredida por companheiros, maridos e namorados. E o maior número de denúncias que chegam aqui é de mulheres de Belém, Ananindeua, Icoaraci e Marituba. A gente acredita que vai acontecer um aumento de atendimentos, não pelo aumento da violência e, sim, pelo aumento do número de denúncias”, fala a coordenadora.
Acolhimento - O trabalho de acolhimento - primeiro contato com as vítimas - é feito por profissionais como a assistente social Magali Campos. É dela a missão de escutar o primeiro desabafo da mulher agredida. “São 7 anos trabalhando na Polícia Civil diretamente com mulheres e, aqui, me sinto mais segura e completa para desenvolver meu trabalho. Caso aconteça alguma dúvida ou dificuldade psicológica, por exemplo, rapidamente já falo com a colega que trabalha no mesmo local e já tiro alguma dúvida. É uma interação profissional que melhora demais o trabalho”, avalia a profissional.
Para a diretora geral da Delegacia da Mulher, Alessandra Jorge, o trabalho de atendimento com a atual estrutura e interdisciplinaridade elevou a qualidade do serviço. Agora, nove delegadas estão disponibilizadas ao atendimento no Pro Paz Mulher. “Até junho deste ano, eu as recebia completamente destruídas física e emocionalmente, o que acabava sobrecarregando o atendimento. Agora, quando a mulher chega até o policial, ela já vem orientada psicologicamente e com o sofrimento bem mais amenizado. Então nosso trabalho flui melhor. Não é só a estrutura bonita de um prédio que estamos vendo. É um espaço público acolhedor e com profissionais preparados para receber esta vítima da melhor maneira possível”, frisa.
Atendimento - A servidora pública C. H. O. C., de 38 anos, buscou o atendimento do núcleo por causa das diversas ameaças do ex-companheiro, com quem tem um filho. Eles viveram juntos durante 7 anos e, desde que se separaram, os conflitos se tornaram insustentáveis. “Há 4 meses ele não paga a pensão do nosso filho (5 anos), e me agride e ameaça por telefone. São mais de 20 ligações por dia, sem parar. Fala coisas horríveis e diz que vai me despejar da casa onde moro com meu filho. Por isso, resolvi procurar ajuda, e estou muito satisfeita com a atenção, a sensibilidade e agilidade no atendimento”, diz a servidora.
Na opinião da universitária E. L. C, de 32 anos, o trabalho desenvolvido no Pro Paz é sua única saída. Ela conta que sofre há muitos anos agressões verbais e físicas graves vindas do irmão. “Ele tem problemas, não aceita meu jeito de ser e me agride muito. Minha mãe sabe de tudo e se cala por medo de também apanhar, mas agora chegou a um nível muito sério. Ele simplesmente não me deixa entrar em casa, que foi deixada por meu pai para nós dois. Não tenho nem para onde ir. Vim buscar além do atendimento psicológico, uma orientação jurídica”, conta a jovem.
Para a autônoma S. L. T., de 39 anos as agressões verbais já acontecem há 7 meses. Depois de 9 anos casada, e uma filha de 7 anos, ela decidiu pela separação. Desde então, o ex-marido a ameaça em seu ambiente de trabalho. “Ele vai no meu trabalho e diz pra todo mundo que vai me matar. Tenho muito medo e resolvi fazer a denúncia. Me senti muito bem aqui, sendo atendida por outras mulheres que entendem exatamente pelo que estou passando. Meu sonho é ver isso tudo se resolver e seguir minha vida cuidando da minha filha”, afirma.
Serviço: O Pro Paz Mulher fica na Travessa Mauriti, 2394, entre as Avenidas Rômulo Maiorana (antiga 25 de setembro) e Duque de Caxias, no bairro do Marco. Atendimento de segunda a sexta-feira, de 7h às 19h, por meio de assistência multidisciplinar de áreas psicossocial, policial, pericial e jurídica. Para garantir pronto-atendimento, o espaço conta com agentes da Polícia Civil para registrar boletins de ocorrência e instaurar inquéritos 24 horas.
Texto:
Ana Paula Bezerra