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Há quatro anos Giovanna Roque não sabia ler nem escrever, agora, ela já cursa a primeira série de Ensino Médio em projeto realizado dentro do CRF.

(Agência Pará de Notícias)

Há quatro anos Giovanna Roque não sabia ler nem escrever. Para sustentar os três filhos, ela trabalhava em uma feira na cidade de Itabatinga, no Amazonas. Em 2010 foi presa pela Polícia Federal quando tentava transportar drogas para a capital paraense. Grávida, ela teve o quarto filho dentro do Centro de Recuperação Feminino (CRF), em Ananindeua.

Condenada há quase 15 anos de prisão e longe da família, Giovanna disse que foi o momento mais difícil da vida. “Eu entrei em depressão na cadeia. Não sabia o que fazer depois que tive meu bebê e precisei entregá-lo à minha família. Não via meus filhos e isso estava me matando. Em uma conversa com as psicólogas e assistentes sociais, elas me incentivaram a estudar. Foi então que me interessei e comecei a frequentar as aulas”, conta a interna.

O incentivo foi fundamental para mudar a vida da detenta, que começou com a alfabetização e rápido concluiu o Ensino Fundamental. Hoje, na primeira série do Ensino Médio, a matéria preferida de Giovanna é química. “Eu tenho certeza que se tivesse estudado quando era criança minha história seria completamente diferente. Eu estaria com meus filhos acompanhando o desenvolvimento deles”. Com a expectativa de estar livre em cinco anos, ela faz planos para quando sair do CRF. “Com o que aprendi aqui dentro quero arranjar um bom emprego para sustentar meus filhos, vou continuar os estudos e cursar uma faculdade”, conta.

No Pará, o CRF é a unidade prisional com maior número da população carcerária em atividades educacionais; seguido do Centro de Recuperação Agrícola Silvio Hall de Moura (CRASHM), em Santarém; e do Centro de Recuperação Regional em Paragominas. No cenário nacional, as detentas custodiadas no Pará também são destaque, visto que 41,62% das mulheres presas estão envolvidas em atividades educacionais no Estado, número superior à média nacional, que é de 10,02%.

“O CRF se destaca nas matrículas das atividades educacionais ofertadas, resultando no sucesso das ações desenvolvidas e no próprio interesse das internas em participar dos projetos”, diz Aline Mesquita, gerente da Divisão de Educação Prisional da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe).

Em 2013, o Pará chegou a ter 13,33% do total de detentos custodiados frequentando as aulas regularmente dentro do cárcere, à frente de estados como São Paulo (7,2%) e Rio de Janeiro (7,9%). Hoje, a Susipe tem 27 (das 42) unidades prisionais com salas de aula e mais de 10 internos cursam nível superior, através do Prouni. No ano passado, quase 700 internos participaram do Enem para Pessoas Privadas de Liberdade (PPL), com o objetivo de obter o certificado de conclusão do Ensino Médio. A Susipe também oferece vagas na educação prisional através de programas do governo Federal como o Procap, o Encceja, o Projovem e o Programa Brasil Alfabetizado, por exemplo. Em 2014, o Pará já tem cerca de 5 mil vagas garantidas pelo Pronatec, para cursos profissionalizantes aos internos.

A educação também ajuda a diminuir o tempo na prisão. A cada 12 horas de frequência escolar, os internos têm um dia diminuído na pena, conforme a Lei de Execuções Penais. Professora do CRF, Ieda Cristina Seawright diz que o ensino dentro de uma unidade prisional deve ser humanizado e que a educação é fundamental. “No cárcere, as pessoas precisam mais do que aprender sobre matemática e geografia, elas precisam de compreensão, novos valores morais e éticos. Tento transmitir isso com trabalho em equipe e interdisciplinaridade. Sempre que possível trago um texto para que possamos ler e juntas refletir sobre o assunto”, explica a professora, que se diz emocionada com a evolução das alunas. “É muito gratificante quando elas aprendem coisas novas e vêm conversar comigo sobre isso. Sinto que meu trabalho está sendo bem feito”, diz Ieda.

Aprendizado que está sendo muito bem aproveitado por Sandra Santos, de 60 anos, que cursa a segunda etapa do ensino fundamental. Há três anos no CRF por envolvimento com o tráfico, ela conta que não sentava em uma sala de aula há 30 anos, desde que concluiu a quarta série do Ensino Fundamental. “Me sinto bem e feliz depois que comecei a estudar. A principal mudança foi no meu humor, agora trato as pessoas bem e isso é fundamental para uma vida melhor. O pouco que aprendi aqui quero ensinar aos meus sete bisnetos, além de ajudar minha mãe de 87 anos. Nunca é tarde para aprender”, conclui a interna.

Texto

Timoteo Lopes
Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará

 

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